Holocausto
Vaga-lumes brilham na segunda noite de setembro. Explosão de luzes. Flashes. Faíscas. Calor, muito calor. Uma senhora dormindo, pensa ser um sonho, desses que se quer acordar logo, mas a pele sua e um ar asfixiante cada vez mais se exacerba. Um véu obscuro se corporaliza, ganha vida, invade o quarto da pobrezinha, que enfim se desperta, se apavora diante daquilo que só como pesadelo haveria de ser sonho.
Nunca o quarto dela parecera tão luminoso e, simultaneamente, tão sombrio. A luminosidade do clarão conta com o escuro para ser seu pano de fundo, onde suas cores estejam a todo período da combustão intensamente vivas, dançantes e variáveis.
A senhora, enquanto dormia há milênios, sente o relampejo do sol despedaçando enfurecidamente sua janela, com seus raios ultra luminosos e vibrantes; sensação térmica insuportavelmente nas alturas, o sol do Rio não aqueceria tanto assim, nem no verão. Ao abrir os olhos, sente-se inerte. Holocausto. Tudo quanto havia em seu quarto está sendo tragado. A senhora que colaborou para a história do povoamento no solo americano, acompanhou todo o percurso evolutivo da formação do território nacional e a afirmação de identidades antes à margem, agora fecha os olhos e consente que o fogo a consuma.
Todo o quarto se reduz ao pó. Após a diminuição da combustão, não se sabe onde Luzia está. Ou suas cinzas se espalharam pelo quarto ou, talvez, ela permaneça viva apenas no silêncio de algum lugar.
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